*Imagina o seguinte cenário: ao visitar um restaurante na China, encontras jaulas lotadas com cães e gatos. Familiarizado com as espécies, perguntas a ti mesmo o que fazem esses animais no restaurante, em jaulas. Um cliente faminto ao teu lado escolhe um gato branco e felpudo, inclusive muito parecido com o teu. Num clique percebes que aquele ser faz parte do menu e é mesmo o prato principal da noite. Antes de ser escaldado em água fervente, o bichano leva pancadas na cabeça e tenta, fugir a todo custo. A pergunta que fazemos é: que direitos este animal tinha e quais deveria ter? Fazendo uma comparação cultural, este mesmo gato chinês poderia ser um frango, uma vaca ou um porco, mas alguém se preocupa com a o animal morto no seu prato?

Tom Regan, é um professor norte-americano de Filosofia e um dos maiores nomes da Bioética, que faz estas perguntas em Jaulas Vazias – Encarando o Desafio dos Direitos Animais, o seu mais recente livro. Activista pelos direitos dos animais há mais de 30 anos, Regan atenta em seu título a todas as formas de abuso que animais sofrem por conta de um dos maiores tipos de preconceito, o especismo, que faz o homem considerar que a sua espécie é superior a todas as outras.

Com base puramente moral e ética, o professor Tom Regan questiona todos os actos que inflijam dor e sofrimento aos animais, o que nada mais é do que não priva-los dos privilégios usufruídos por todos os animais não-humanos, como direito à integridade física e psicológica. É defendida, então, a destruição das jaulas para que a libertação animal seja feita e estes passem a não sofrer mais da exploração a que são submetidos.

Numa conversa com o leitor, Regan examina e esclarece as razões fundamentais dos direitos humanos, cruzando-as com os direitos morais que os animais deveriam ter. O autor os coloca no mesmo patamar os ‘sujeitos-de-uma-vida’ – que usa para designar a capacidade de um ser de se importar com o que acontece na sua própria vida, mesmo que ninguém se importe.

Regan aponta muitas das causas pelas quais os direitos dos animais ainda não foram perpetuados. Porta-vozes da indústria, seja ela da carne ou de experimentação animal, desfrutam do que o autor chama de ‘dito-desconexo’. Com discursos decorados, falam do que as pessoas gostam de ouvir, ou seja, que o tratamento dado é humanitário e o bem-estar animal prezado. Segundo o autor, esses porta-vozes descrevem os defensores dos animais / activistas, de extremistas malucos, que querem a libertação animal a qualquer custopromovendo a violência e o terrorismo. Infelizmente, estes mesmos pregadores não abrem as suas portas para que todos vejam a olho nu o verdadeiro tratamento humanitário, que inclui um abate violento – no caso dos animais para consumo humano – e produtos químicos nos olhos dos coelhos.

Tom Regan discute temas como a caça desportiva, rodeios, touradas, corridas de galgos, indústria do couro, lã e entretenimento, entre muitos outros, que atingirão em cheio o leitor de Jaulas Vazias – Encarando o Desafio dos Direitos Animais.

Resumidamente, a obra de Regan traz a seguinte mensagem: lutar pela paz é ir ao encontro do especismo, é conviver pacificamente com outras espécies sem julgá-las inferiores ou apenas seres existentes para o prazer humano.

O livro (em inglês) pode ser adquirido aqui

Versão portuguesa, disponível na lojavegetariana.pt aqui

Título: Jaulas Vazias – Encarando o Desafio dos Direitos Animais

Autor: Tom Regan
Editora: Lugano

*O excerto do filme que Regan refere no início do livro pode ser visto no documentário To Love or Kill: Man vs Animal (1996), HBO