Hoje acordei com a notícia de que Jane Goodall partiu. Receber esta notícia, numa altura em que vivemos num mundo conflituoso e complicado, despertou em mim uma tristeza. Sempre vi Jane Goodall como um exemplo de bondade e para mim um dos melhores exemplos de activismo positivo, mantendo sempre as suas convicções fortes.
Ao escrever estas palavras, lembro-me perfeitamente da primeira vez que ouvi falar dela e que conheci o seu percurso. Jane, uma senhora de cabelos brancos e sorriso ternurento com uma postura calma falava sobre chimpanzés, mas ao pesquisar mais, a imagem que irá ficar comigo será sempre a de Jane Goodall, uma mulher jovem à frente do seu tempo, de cabelo apanhado num rabo-de-cavalo, sentada no chão da floresta, imóvel, a observar. Não havia arrogância na sua postura, apenas uma paciência infinita e um respeito que transcendia qualquer um.

Uma revolucionária de binóculos
Jane Goodall não foi só uma cientista, primatóloga, activista: foi uma rebelde que inspirou muitas mulheres e crianças. Num mundo académico dominado por homens, ela, ainda jovem, ousou desafiar tudo o que se “sabia” sobre os animais. Eles não eram “coisas” ou “máquinas” biológicas; eram indivíduos. Tinham personalidades, como o David Greybeard, o seu primeiro chimpanzé de confiança. Tinham famílias, amizades, conflitos e faziam luto. Eles sentiam.
E foi essa a teoria de Jane que inspirou muitas pessoas. Ela não chegou com teorias complexas; chegou com empatia. E, ao fazê-lo, não estava apenas a estudar primatas; estava, sem saber, a lançar as bases para que muitos abraçassem o veganismo.
Para muitos, tal como eu, o veganismo nunca foi sobre uma dieta. Foi sobre esta lição fundamental que Jane nos incutiu: a de que a senciência é a moeda universal que nos une a todos. Se um chimpanzé sofre com a perda de um filho, uma vaca também sofre. Se um porco é inteligente e social, porque é que o tratamos como um produto? A obra de vida de Jane é o argumento científico mais robusto que qualquer vegano pode usar. Ela tirou a venda dos nossos olhos com dados, mas também com uma compaixão que era, em si mesma, uma forma de ativismo.
Uma feminista, à frente do seu tempo
E falando em ser revolucionária, não posso deixar de a celebrar como mulher. Jane Goodall foi um ícone feminista muito antes de eu perceber o que essa palavra significava. Ela desafiou o establishment científico masculino, partiu sozinha para uma floresta africana quando isso era impensável para uma mulher, e construiu uma carreira monumental sem pedir autorização.
Ela mostrou-me que a força feminina não se grita, faz-se. A sua tenacidade silenciosa, a sua inteligência emocional aplicada à ciência, a sua maneira de liderar com suavidade e firmeza inabalável – tudo isso me moldou. Ela provou que se podia ser simultaneamente suave e incrivelmente forte; sensível e rigorosamente científica. Quebrou a falsa dicotomia que tantas vezes nos tentam impor.
A sua vida foi um testemunho de que uma mulher, seguindo a sua intuição e paixão, pode literalmente mudar a forma como o mundo vê a vida. E que lição mais poderosa para todas nós?
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O legado que irá perdurar
Jane partiu, mas o seu legado ecoará. Ele irá ecoar em cada escolha que fazemos no supermercado, em cada explicação paciente que damos sobre o porquê de sermos veganos, cada vez que defendemos um animal ou uma causa com a firmeza gentil que ela nos ensinou.
A minha homenagem não será um minuto de silêncio, mas uma vida de ação. Será continuar a espalhar a mensagem de compaixão que ela tão bem encarnou. Será lembrar-me, todos os dias, de que a verdadeira mudança começa quando nos sentamos no chão, olhamos nos olhos do “outro” – seja ele um chimpanzé, uma vaca ou um ser humano – e simplesmente… ouvimos.
Obrigada, Jane Goodall, por tudo. A tua inspiração irá continuar a crescer dentro de mim.
Com o coração cheio de agradecimento, até sempre.
Jane Goodall (1934-2025)