Esta semana, enquanto lia as notícias, deparei-me com algo que, a meu ver, é uma forma peculiar — e, para mim, cruel — de celebrar o Dia dos Namorados. Como mãe vegana, confesso que me custa explicar aos meus filhos porque é que algumas formas de crueldade animal são vistas como corretas ou até engraçadas, enquanto outras são condenadas. A linha que separa o aceitável do inaceitável parece cada vez mais ténue, e iniciativas como as que vou descrever deixam-me a refletir sobre a nossa relação com os animais não-humanos.
O Dia dos Namorados está à porta, e enquanto alguns celebram o amor com chocolates e jantares românticos, outros preferem dar um toque de humor ácido (ou vingança) à data. É neste contexto que alguns zoológicos estão a oferecer formas cruéis de “homenagear” o teu ex, transformando animais em instrumentos de vingança. Em troca de uma quantia monetária, que ajuda a financiar os espaços, podes dar o nome do teu ex a uma barata, um roedor ou até mesmo a um vegetal, que será depois servido como alimento a outros animais. A ideia pode parecer divertida para alguns, mas levanta questões éticas sobre como tratamos os animais e como normalizamos a sua exploração para fins de entretenimento humano.
“Cry Me a Cockroach”: A Vingança Mais Inusitada do Dia dos Namorados
O Zoológico de San Antonio, nos EUA, lançou a campanha “Cry Me a Cockroach” (algo como “Chora-me um Barata”), destinada a adultos com mais de 18 anos. A ideia é simples: podes escolher entre vegetais (5€), uma barata (10€) ou um roedor (25€) e dar o nome do teu ex ao “alimento”. Este será depois servido a um dos residentes do zoológico, como cobras, porcos-espinhos, cangurus ou aves.
Em troca, recebes um cartão digital de Dia dos Namorados e a satisfação sombria de saber que o nome do teu ex foi “devorado” por um animal faminto.
Baratas Gigantes de Madagáscar: O Sibilo da Vingança
Já no Zoológico de Brookfield, em Illinois, a proposta é ainda mais peculiar. Aqui, podes dar o nome do teu ex a uma barata gigante de Madagáscar, conhecida pelo seu sibilo intimidante. Por uma doação de 15€, o teu ex será imortalizado no painel de nomes do zoológico, que será revelado no Dia dos Namorados.
E se estás feliz no amor, também podes dar o nome da barata a alguém especial. Afinal, o amor (ou o ódio) deve ser celebrado de todas as formas!
Humanos vs. Animais — O Paradoxo da Empatia
Enquanto estas campanhas geram risos e até ajudam a financiar zoológicos, é impossível ignorar o paradoxo que elas revelam. Por um lado, os humanos usam animais como ferramentas de vingança ou entretenimento, sem considerar o seu bem-estar ou dignidade. Por outro, estas mesmas instituições dependem do apoio humano para cuidar desses animais.
Esta dinâmica reflete uma visão antropocêntrica do mundo, onde os animais são frequentemente reduzidos a objetos ou recursos, em vez de seres sencientes com valor intrínseco. Enquanto os humanos se divertem a “vingar-se” dos ex-parceiros, os animais são colocados no centro de uma narrativa que reforça a nossa desconexão com a natureza.
Será que, no futuro, conseguiremos encontrar formas mais empáticas e respeitosas de interagir com outras espécies? Ou continuaremos a usar a criatividade humana para perpetuar uma relação desigual e, por vezes, cruel com o mundo animal?
Seja para celebrar o amor ou para “celebrar” o fim de um relacionamento, estas campanhas mostram que o Dia dos Namorados pode ser muito mais do que rosas e chocolates. Mas talvez seja também um momento para refletir sobre como tratamos os outros seres vivos que partilham o planeta connosco.