O metano é um dos principais poluentes atmosféricos, desempenhando um papel crucial no aumento das temperaturas globais e, consequentemente, na crise climática. Uma das principais fontes desse gás prejudicial é a exploração pecuária intensiva.
Quando discutimos o aquecimento global, a atenção recai muitas vezes sobre o dióxido de carbono (CO2), por ser o gás com maior concentração na atmosfera. No entanto, o metano (CH4) é igualmente perigoso e tem um impacto significativo no nosso futuro. Apesar de ser menos mencionado, o metano é um dos gases com maior potencial para alterar o clima do planeta.
O que é o metano?
O metano é um gás de efeito estufa composto por um átomo de carbono e quatro de hidrogénio (CH4). Este gás é emitido tanto por processos naturais quanto por atividades humanas e é extremamente eficiente em reter calor, contribuindo para o agravamento do efeito estufa. Embora a sua presença na atmosfera seja temporária quando comparada ao CO2, o metano é até 80 vezes mais potente no aquecimento global a curto prazo.
A comunidade científica concorda que reduzir as emissões globais de metano é vital para mitigar os efeitos das alterações climáticas e alcançar os objetivos do Acordo de Paris, que visa limitar o aumento da temperatura global a 1,5 °C.
Fontes de emissões de metano
As emissões de metano de origem humana são provenientes de várias fontes:
- 20% provêm de aterros e da má gestão de resíduos, onde a decomposição liberta CH4.
- 35% são geradas pela extração, produção e transporte de combustíveis fósseis como petróleo, gás natural e carvão.
- 40% das emissões de metano estão relacionadas com a agricultura, sendo a pecuária intensiva uma das maiores responsáveis.
O impacto da pecuária intensiva
A pecuária intensiva, especialmente a criação de bovinos, é uma das maiores responsáveis pela emissão de metano. Os ruminantes, como vacas, ovelhas e cabras, emitem grandes quantidades deste gás durante a digestão, devido ao processo de fermentação entérica. Uma vaca pode libertar entre 70 e 120 quilos de metano por ano. Além disso, a gestão inadequada de resíduos animais, como os dejetos acumulados em grandes quantidades em explorações intensivas, é outra fonte significativa de emissões.
Se, em condições naturais, os excrementos dos ruminantes poderiam ajudar a regenerar os solos, nas explorações intensivas, o volume excessivo de dejetos gera poluição, agravando o problema ambiental.
Soluções falhas e subestimação das emissões
Apesar de ser cada vez mais reconhecido que é fundamental reduzir as emissões para enfrentar a crise climática, as medidas atuais ignoram em grande parte o impacto da pecuária intensiva. O Global Methane Pledge, que visa reduzir as emissões de metano em 30% até 2030, omite uma das fontes mais significativas deste gás: os grandes sistemas de criação de animais.
Estudos recentes, conduzidos por investigadores da Universidade de Nova Iorque e da Universidade Johns Hopkins, sugerem que as emissões de metano da pecuária intensiva podem estar subestimadas em até 90%. Este erro pode comprometer o cumprimento das metas do Acordo de Paris e o controlo do aquecimento global.
A necessidade de mudança
Para reduzir as emissões de metano e combater as alterações climáticas, é crucial revermos o modelo de exploração pecuária intensiva. Investimentos em soluções tecnológicas, como a introdução de algas nos alimentos dos bovinos ou a utilização de biodigestores para tratar os dejetos, são insuficientes para enfrentar o problema de forma eficaz.
A solução mais direta e imediata seria a redução significativa da quantidade de animais criados em regime intensivo. Diminuir a produção e o consumo de carne é uma medida essencial para evitar a escalada da crise climática e alcançar os objetivos globais de sustentabilidade.