Março 24 2015 0Comentários

Viajar e ser vegan na Indonésia

Viajar enquanto vegano pode parecer um desafio. Eu gosto de viajar e sempre que posso pôr um pezinho fora de casa, quer seja em Portugal ou no estrangeiro.

Há uns meses atrás deixei aqui o meu relato de uma viagem a Nova Iorque, que acabou por ser um autêntico desafio de escolhas, já que havia tanto por onde escolher. Viajar em países ocidentais é, de certa maneira, fácil e acessível se quisermos manter fora do nosso prato produtos de origem animal.

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Antes de conhecer a Big Apple viajei para o oposto e foi uma experiência que espero poder repetir em breve. Em 2013 tive a oportunidade de conhecer Pacitan, uma regência localizada no sudoeste da província de Java – Indonésia.

Viajar para o outro lado do mundo levanta algumas preocupações e eu nunca me tinha afastado tanto de Portugal.

O desafio começou com a preparação, o que levar, o que não levar e como tentar comunicar. Para a viagem (apesar de pedir sempre refeição vegan) levei um lanche que conseguisse aguentar uma viagem de cerca de 27horas (com escalas). Acabou por não ser necessário, já que a companhia aérea fez um excelente trabalho e toda a comida além de deliciosa foi variando ao longo de cada etapa.

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A primeira noite passei em Jacarta, capital Indonésia. Antes de partir verifiquei se tinha algum restaurante vegano perto da localização onde ia ficar e a opção foi mesmo conhecer o The Lovin’ Hut, cadeia internacional de restaurantes veganos, que adaptam cada restaurante à gastronomia do país. As comida estava deliciosa e foi a minha primeira experiência gastronómica em Jacarta.

Um dos pontos que me chamou mais à atenção em Jacarta e que repete em toda a Indónesia são as barraquinhas de rua onde são servidas inúmeras iguarias locais, que incluem Tempeh e Tofu e uma variedade de fruta fresca e sumos de fruta.

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No dia seguinte, depois de mais um par de horas de viagem de avião era altura de seguir para Yogyakarta que seria mais perto do nosso destino final Pacitan. À saída do aeroporto de Yogyakarta conseguimos um driver que falava inglês fluente e que nos levou para um restaurante bastante turístico e com uma variedade gastronómica inigualável. Neste restaurante provei o Nasi Goreng, uma espécie de arroz frito, que costuma levar ovo, mas pedi para que o retirassem, e uma pasta de amendoim picante, muito comum na Indonésia, Sambal Kacang. O dia seguinte ia ser longo com uma viagem de quase 7 horas até Pacitan e demos o dia por concluído.

2013-06-19 16.27.05Ao chegar a Pacitan fiquei à medida que ia avançando nas ruas comecei a reparar na variedade de frutas e legumes que havia, alguns nunca tinha conhecido e estava desejosa para os conhecer e provar. Ainda tinha muitos alimentos que tinha levado como apoio caso se tornasse difícil encontrar opções veganas.

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Pacitan é uma pequena localidade e os meus dias foram divididos em Pacitan e a praia de Watu Karung, que apenas tinha dois barzinhos, um que servia peixe e outro que era apenas uma senhora que cozinhava Tempeh!

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O tempeh é um alimento de soja fermentada,muito rico e com origem indonésia, o que o torna muito fácil de encontrar em qualquer local e preços muito acessíveis. O tempeh e o tofu pode ser comprado fresco nos mercados directamente às senhoras que o confeccionam ou nos supermercados onde são vendidos embrulhados numa folha de majagua. O seu sabor é muito suave e diferente do que compramos cá.

Posso dizer que fiquei fã do tempeh da praia e com saudades de ter tempeh assim acessível.

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No final da primeira semana tive o privilégio de conhecer uma menina indonésia chamada Maria(quais as possibilidades?). A Maria, que estuda inglês na Universidade de Jacarta, passou alguns dias connosco e a partir desse momento pude conhecer ainda mais os sabores indonésios. Apesar de haver uma grande variedade de vegetais e frutas, Pacitan não é um local turístico pela dificuldade de acessos, os locais não falam inglês e apenas tinha algumas palavras guardadas para utilizar em emergência.

Com a Maria fiquei a conhecer uma grande variedade de doçaria local feita sobretudo com mandioca e doces de fruta muito populares na ilha de Java.

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À parte dos doces toda a ilha é rica em frutas exóticas e muito acessíveis. Durante o dia deliciava-me com uma água de coco acabado de colher e com a sua carne (só mais tarde descobri que a carne do coco são as crianças que comem, os adultos apenas bebem a água) e com uma variedade de frutas que nunca tinha visto, como o salak, também conhecido como a “fruta cobra” já que a sua casca se assemelha às escamas de um réptil.

As frutas mais comuns nos mercados de rua eram a pitaia, durián, tamarindo,carambola, bananas, papaia, muita cor e variedade. Uma particularidade é que como a localidade não é muito turística, os ocidentais que viajam para Pacitan são vistos como atrações e os indonésios gostam de receber e tratar bem os estrangeiros, por isso ofereciam-nos bananas (algumas com caroço, o que é muito estranho) e amendoins crus que são deliciosos.

DSCN0740À parte dos restaurantes a visita aos supermercados locais tornou-se uma autêntica maravilha. Os produtos tem a indicação VEGETARIAN que a maior parte das vezes significa que são veganos (mas convém sempre ler os rótulos) e a variedade de bebidas vegetais locais é inigualável, não tem apenas leite de soja, mas uma variedade de bebidas incluindo uma deliciosa mistura de cereais, tudo local e bem tradicional.

Num dos dias que saí de Pacitan, voltei a Yogyakarta para visitar o maior monumento budista do mundo, Borobudur. Ao voltar para Pacitan, passamos pelo Carrefour e o supermercado, além de ter uma grande variedade de produtos vegetarianos, ainda tem uma banca que serve todo o tipo de tofu. Comprei uns pedaços, que partilhei com o nosso driver que nos acompanhou em grande parte dos dias que ficamos em Pacitan.

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Os dias passados em Pacitan foram tranquilos, conheci pessoas locais com vontade de partilhar e tive acesso a uma cultura diferente.

Mas como estava longe de casa e desde sempre que quis conhecer Bali, ali estava perto, a um par de horas de avião e foi o que fiz. Os meus últimos cinco dias seriam passados em Bali, naquele destino que muitos tem como paradisíaco.

Bali para mim revelou-se confuso, muito mais simples de comunicar em inglês mas também muito ocidental. A maior parte dos supermercados tinham alimentos importados e apesar de ter gostado dos sabores achei que havia uma tentativa de aproximação à procura ocidental.

Viajar enquanto vegano é uma experiência e com certeza que nos abre novos horizontes gastronómicos, que não devemos negar apenas por serem desconhecidos. Espero em breve voltar e conhecer outros sabores veganos.

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