Sim, leram bem, estará o veganismo em queda?
Apesar das perspectivas de crescimento económico e do aumento das ofertas de produtos vegan, tenho assistido a uma queda do veganismo à minha volta e por diferentes motivos. Estando também ligada ao veganismo e à promoção de produtos vegans, percebo que o padrão de consumo alterou e que a procura mudou de pessoas que procuram uma alimentação de base 100% vegetal, para pessoas que buscam hábitos alimentares mais saudáveis ou até mesmo reduzir o consumo de proteína animal, sem a deixar totalmente posta de parte.
Relacionado: Qual a diferença em ser vegetariano e vegan
4 meses de dieta vegan
Ontem enquanto procurava novos episódios de podcast para ouvir, encontrei um que me chamou a atenção, já que ia expor a sua experiência com a dieta vegan e porque que deixou de seguir pessoas veganas.
Sem qualquer julgamento, quis ouvir o podcast e ainda bem que o fiz, ele fez-me perceber o porquê de tanta gente abandonar o veganismo e voltar a consumir produtos animais, o que me deixa triste, por serem pessoas com alguma responsabilidade e que deveriam tomar mais precauções e fazer um maior planeamento quando buscam mudar a alimentação.
Voltando uns anos atrás
Quando o veganismo começou a explodir e a ser falado e normalizado um pouco por toda a parte, foi com o lançamento de filmes como o Cowspiracy que muita gente não conseguiu ficar indiferente e quis fazer a mudança, alterando os hábitos alimentares sem pesquisar antes como o fazer correctamente.
Uma das dificuldades que a autora do podcast sentiu foi não se adaptar a certos alimentos, que seriam considerados quase obrigatórios como a couve Kale (que estaria em alta nesse ano em plataformas sociais), assim como a ingestão de maior fibra e perda de peso. Estes dois últimos pontos, não considerou problemáticos, até porque percebeu que a perda de peso aconteceu pela maior ingestão de frutas e hortícolas.
Pelo discurso, percebi que deixou de parte ou não incluiu como devia alimentos como o tofu, tempe ou seitan, ou outros alimentos mais saciantes, tal como as leguminosas, e que isso teve um forte impacto em sentir que estava sempre com fome e com necessidade de cozinhar.
Carência de ferro e veganismo
Ouvi todo o podcast, como já disse, sem julgamento, de facto gosto de saber o que leva as pessoas a adoptar e a abandonar o veganismo, sendo vegan há mais de metade da minha vida, não consigo imaginar ter que voltar a consumir proteína animal. Nestes anos em que fui vegan tive vários desafios, onde corria bastante (todos os dias 6 – 10km e ao fim de semana 12 – 20km), tive duas gravidezes perfeitas e nunca tive carência de ferro.
Tirando a gravidez em que suplementei, nas outras fases da vida nunca senti necessidade de o fazer e as declarações da autoria deixaram-me bastante triste.
Relacionado: Gravidez vegana – suplementos, sim ou não?
A mesma afirma que 4 meses de dieta vegana (apesar de admitir que a certa altura introduziu o peixe e os ovos) a deixaram com carências de ferro que demoraram mais de 1 ano para conseguir repor os valores normais.
O que me dá algum desalento é que é um caso típico de alguém que quis fazer uma alimentação “clean” e que acabou por entrar numa ortorexia (procura constante por uma alimentação perfeita) e que muitas vezes levam a que as pessoas afirmem que estão a seguir uma alimentação vegan e isso confunde muitas vezes os profissionais de saúde mais desprevenidos que acabam por achar que a alimentação de base vegetal não é equilibrada.
Por último, afirmou que apesar de ter desenvolvido receitas muitos boas, hoje em dia não cozinha nada vegano.
Eu continuo vegana, com uma alimentação vegetariana estrita e saudável, e fico muitas vezes preocupada com o que vejo nas redes sociais, com dicas que fazem as pessoas ficar baralhadas com o que vão comer, causando muitas vezes stress e perda de vontade de prosseguir com o veganismo.
Não me importo os motivos que levam cada um a escolher o veganismo, mas gosto que mantenham o foco para que sejamos cada vez mais e mais fortes.