Agosto 16 2023 2Comentários

Favas: A Próxima Tendência em Proteína Vegetal?

A evolução constante na cena culinária traz consigo novos ingredientes e tendências a cada estação. Mas quem diria que este ingrediente que nos é familiar seria a nova revolução alimentar?

As favas são amplamente conhecidas em Portugal, com uma riqueza de receitas tradicionais e até canções populares dedicadas a elas, quem não conhece as favas com chouriço de josé cid? Enquanto que para nós, esta leguminosa é parte integrante das receitas de primavera e início de verão, em muitos países ela é negligenciada ou pouco utilizada.

É por isso que fiquei impressionada ao descobrir que as favas têm o potencial de se tornarem a próxima grande tendência em proteína vegetal, graças a um projeto inovador que está a ser liderado por Sarah Dohle. Sarah, ex-professora da Universidade Delaware Valley e especialista em feijões do Departamento de Agricultura dos EUA, está a lançar as bases para esta revolução culinária.

Financiado pelo USDA, este ambicioso projeto visa elevar as favas a um novo patamar de sabor e nutrição, tornando-as uma opção irresistível tanto para chefs conceituados quanto para apreciadores exigentes da gastronomia. Uma colaboração sem precedentes entre cientistas, especialistas alimentares, agricultores e membros da comunidade de Filadélfia impulsionou este esforço conjunto para transformar as favas numa tendência culinária de destaque.

A fava é uma leguminosa que apresenta uma composição nutricional notável, comparável a outros alimentos deste grupo. Além de ser uma excelente fonte de proteína vegetal, as favas são ricas em amido, um tipo de hidrato de carbono complexo que oferece uma liberação gradual de energia ao organismo ao longo de um período prolongado. Além disso, a fava é abundante em ferro, vitaminas do complexo B, magnésio, potássio, zinco e fósforo.

Destacando-se ainda mais, as favas estão entre as leguminosas mais ricas em fibras, contendo 5,8g por cada 100g de fava, sendo superadas apenas pelo feijão branco. A presença significativa de fibra não só promove a saúde digestiva, mas também contribui para a redução dos níveis de gordura no sangue, como colesterol e triglicéridos, auxilia na regulação do apetite e melhora a regularidade do trânsito intestinal.

Em nossa casa, além das favas frescas, também já experimentamos proteína texturizada de fava, que substitui a proteína de soja ou ervilha.

A jornada de Sarah Dohle no mundo das favas começou com uma dose de cepticismo. Inicialmente,  Sarah não conhecia esta leguminosa nem as suas propriedades até entrar num laboratório onde se estudava a relação das favas com insetos. No entanto, um desafio intrigante mudou tudo. Um cientista desafiou-a a dar uma nova oportunidade ao sabor das favas, quando preparadas da forma correta. O resultado foi surpreendente. Sarah descreveu as favas como “excepcionalmente saborosas, com uma textura mais cremosa e suave, além de um perfil de sabor mais refinado do que as favas comuns, quase como uma variedade premium”.

Este projeto, com o respaldo do USDA, envolve diversos centros de pesquisa de renome, incluindo a UC Davis, Clemson, a Universidade de Delaware e a UC Riverside. Nestes centros, os cientistas estão a realizar uma análise minuciosa das características das favas, identificando marcadores genéticos para aprimorar suas qualidades. Equipas de especialistas em alimentos das Universidades Delaware Valley e Iowa também realizaram pesquisas com consumidores, buscando identificar os atributos mais desejados.

Esta abordagem colaborativa visa desenvolver variedades de favas com características irresistíveis, com o objetivo de cativar agricultores e consumidores. Desde grandes produtores até programas de refeições nas escolas e horticultores comunitários, todos estão envolvidos neste processo, celebrando a diversidade natural das favas. Sarah Dohle e a sua equipa até coordenaram o cultivo das favas num jardim comunitário em Filadélfia, proporcionando uma experiência única para vivenciar o trabalho genético por trás do projeto.

Apesar dos desafios, como a sensibilidade das favas ao fotoperíodo, que exige noites mais longas para o florescimento, a equipa está confiante de que poderá criar uma iguaria verdadeiramente singular, seguindo o exemplo do enorme sucesso alcançado com a abóbora honeynut.

No entanto, a visão de longo prazo vai além de tornar as favas uma tendência gastronómica. O projeto visa também promover os benefícios das favas para agricultores e o meio ambiente. Como leguminosas, as favas enriquecem o solo com nitrogénio, tornando-se uma cultura ecologicamente vantajosa, especialmente num cenário de padrões climáticos cada vez mais imprevisíveis.

À medida que os habitantes da Filadélfia e de outras regiões adotam estas novas variedades de favas revitalizadas, é possível que em breve estejam a apreciar o sabor das “favas de Filadélfia” no próximo ano, da mesma forma que o mundo viaja até ao Novo México em busca das pimentas Hatch ou até à França em busca de champanhe.

Assim, esta iniciativa está a unir agricultores, chefs e consumidores numa missão com o potencial de transformar as favas numa tendência gastronómica notável. Este é um fenómeno que pode revolucionar o mundo da culinária de uma forma deliciosa e sustentável!

2 comments

  1. As favas são um alimento polémico, porque há pessoas que não gostam. Eu adoro favas! Mas prefiro-as cozidas sem a camisa (a casca).
    Favas com o sabor da minha infância, só compradas na praça! As congeladas são pequenas demais e as que tenho comprado nas lojas de frutas e legumes ao pé de casa não são “manteigueiras” – seja lá isso o que quer dizer, mas são as mais saborosas!
    Venha lá essa novidade das favas!

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    1. Olá Cândida!
      Também sou fã de favas tenras, saborosas e, às vezes, até arrisco cozinhar a vagem inteira.
      Adoro a sua versatilidade e já fiz um patês deliciosos com elas. As favas no ponto certo têm um encanto mágico, o contraste de sabores e texturas é sensacional.

      Um grande bem-haja!

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