Agosto 30 2023 2Comentários

A Polémica da Rotulagem de Alimentos à Base de Plantas na UE

Nos últimos tempos, tenho observado atentamente as discussões em torno da rotulagem de alimentos à base de plantas na União Europeia (UE). Como consumidora, preocupo-me com a transparência das informações que recebo ao escolher os produtos que coloco no meu carrinho de compras. Entretanto, confesso que ainda me sinto um pouco perplexa em relação à polémica que rodeia os termos de rotulagem, como “atum vegan” ou “queijo vegan”.

Uma lei implementada em França no ano de 2021 procurou trazer maior clareza à rotulagem de alimentos, proibindo o uso de nomes associados a alimentos de origem animal para comercializar produtos à base de plantas, como hambúrgueres vegetarianos ou salsichas veganas. A ideia por trás dessa medida é fornecer aos consumidores informações mais precisas sobre o conteúdo dos produtos que adquirimos. A sua intenção é nobre, mas não posso deixar de me perguntar: por que será que um rótulo simples como “queijo vegan” causa tanta controvérsia?

Recentemente, o Conselho de Estado Francês decidiu encaminhar o caso para o Tribunal de Justiça Europeu (TJE) para uma decisão final. Esta decisão deverá esclarecer se os Estados-membros da UE têm o direito de criar as suas próprias leis em relação à rotulagem de produtos à base de plantas. Elena Walden, do Good Food Institute Europe, destacou a importância dessa decisão para o setor alimentar, salientando que ela determinará se a UE seguirá uma abordagem uniforme na rotulagem ou permitirá a diversidade de regras em cada país.

No entanto, à medida que aguardamos a decisão do TJE, não posso deixar de refletir sobre a minha própria perspetiva como consumidora. Quando vejo um produto rotulado como “queijo vegan”, não me sinto confusa. Pelo contrário, sinto-me informada. Afinal, já estamos habituados a usar termos como “queijo”, “leite” e “atum” no nosso dia a dia para descrever a textura e o sabor desses alimentos. Ao usar esses termos em produtos à base de plantas, sinto que os produtores estão a comunicar de forma clara e direta o que posso esperar desses produtos.

Enquanto compreendo a necessidade de fornecer informações precisas aos consumidores, também valorizo a simplicidade e a familiaridade dos rótulos. Não me parece que haja uma intenção de enganar os consumidores ao utilizar termos como “queijo vegan”. Pelo contrário, acredito que essa rotulagem está a satisfazer a necessidade de informação e, ao mesmo tempo, a refletir a forma como já usamos esses termos no nosso quotidiano.

Espero que a decisão do TJE leve em consideração a voz dos consumidores e equilibre a necessidade de transparência com a simplicidade que muitos de nós valorizamos ao escolher produtos alimentares. À medida que o caso prossegue, resta-nos aguardar para ver como essa polémica será resolvida e como a rotulagem de alimentos à base de plantas se desenrolará no futuro.

Tags:

2 comments

  1. Como mãe de uma criança de 6anos e com várias alergias alimentares (ex vaca, ovelha, cabra, ovo)e algumas intolerâncias ( lactose, gluten) sinto me bastante preocupada e frustada com a forma como os produtos a serem seleccionados nas prateleiras dos surpermercados e também nos menus dos restaurantes estão, não só, pouco ilucidativos como também enganosos. Enganosos em que medida: ou têm a descrição Vegan ( e depois a ler em concreto os ingredientes têm às vezes alguns de origem animal) , bem como também muitas vezes o símbolo que utilizam para identificar um produto Vegan é igual a produto Vegetariano, é incrédulo ver isto a acontecer e extremamente grave no meu ponto de visto quer enquanto consumidora , mas sobretudo enquanto mãe.
    Há necessidade de uma fiscalização mais assertiva, mais frequente e necessidade de terem simbolos bem diferentes entre Vegan e Vegetariano e bem visíveis.
    Obrigada

    Responder
    1. Olá Patrícia,

      Compreendo perfeitamente o que está a dizer. Infelizmente, ainda não existe legislação que estabeleça claramente quais produtos podem ser considerados isentos de ingredientes de origem animal ou que possam conter vestígios dos mesmos. Quando um produto exibe o selo “vegan”, isso significa que não contém ingredientes de origem animal, mas é importante notar que pode ser produzido numa instalação que também lida com produtos lácteos ou outros alimentos, daí a menção de “pode conter traços ou vestígios de”. Segundo o que algumas marcas me informaram, esta informação não é obrigatória, mas é uma mais-valia para quem tem alergias estar informado sobre os ingredientes.

      No que diz respeito à diferenciação entre os rótulos, estou completamente de acordo consigo. Apesar de ter havido uma pequena alteração na cor este ano, considero que não é suficiente. Muitas vezes, apenas vemos a imagem da folha e associamo-la ao termo “vegan”.

      É bom saber que existem algumas marcas “Free From” que, por norma, são produzidas em fábricas que não manipulam os principais alergénios, como o leite, ovo, crustáceos, amendoins, peixes ou frutos secos. Estas oferecem uma alternativa mais segura para aqueles que têm alergias alimentares e devem evitar esses ingredientes.

      Responder

Escreva uma resposta ou comentário