Abril 09 2021 0Comentários

Seaspiracy – o que está a acontecer com o oceano?

Quando nos tornamos veganos, normalmente o processo começa por deixar os produtos animais, começando pelos terráqueos (as carnes de animais como vaca, frango, porco…), de seguida os produtos do mar (peixe, frutos do mar) e por último os ovos, laticínios e derivados. Isto acontece simplesmente por um motivo: a nossa capacidade de criar empatia com os animais. Sentimo-nos mais próximos dos mamíferos: muitos de nós temos animais não humanos que partilham a nossa casa, e vemos muitas semelhanças entre eles e os chamados animais para consumo humano. Por exemplo, podemos sentir carinho ao ver uma vaca a usufruir de um pasto, da mesma forma que vemos o nosso cão a descansar na relva; ver duas cabrinhas a brincar pode ser semelhante a ver os nossos gatos a brincar (mesmo fora de horas). Estas são algumas das situações que nos aproximam e fazem com que tenhamos empatia.

Mas o que acontece com os peixes?
Os peixes são animais muito diferentes, não partilhamos o mesmo ambiente. Eles vivem no mar e nós na terra, e fisicamente existem muitas diferenças! Isto faz com que seja mais complicado encontrar pontos comuns que nos façam sentir afecto, ou tentar perceber como é que eles sentem, socializam ou existem. Mas isso não significa que os peixes não sintam dor, nem que tenham menos direitos.

Quando comecei a ver o Seaspiracy não sabia bem o que esperar. Não contava que tivesse um conteúdo tão chocante e que me fosse tão difícil assistir!

Seaspiracy é o novo documentário da Netflix criado pela mesma equipa de Cowspiracy (2014).

Dirigido e narrado pelo cineasta britânico Ali Tabrizi, o documentário da Netflix leva-nos numa viagem pelos oceanos, destacando a importância dos seus ecossistemas, desde os animais mais pequenos até aos maiores, e os efeitos negativos que a pesca intensiva tem na conservação da vida marítima e terrestre (85% do oxigénio que respiramos vem do mar).

A problemática da pesca intensiva é bem conhecida pelos efeitos devastadores que tem para as populações marinhas. Associada à pesca intensiva está a captura acidental, que representa 40% da captura. Ou seja, animais que são capturados e descartados, uma vez que não têm qualquer valor comercial. Mesmo que estes animais sejam lançados ao mar, não têm possibilidade de sobrevivência dadas as lesões causadas pelas redes e pela falta de oxigénio. Por ano são capturados 50 milhões de tubarões e até 10 mil golfinhos (só na costa do atlântico).

Palhinhas de plástico
Tem estado na boca do mundo a necessidade de deixar de consumir bebidas com palhinhas de plástico. Muitas marcas começaram a oferecer opções alternativas em alumínio, vidro ou bambu. Como exemplo, em Bali não se servem bebidas com plástico: na maior parte dos cafés, restaurantes ou bares, utiliza-se umas palhinhas verdes que são descartadas de seguida.
Mas as palhinhas apenas representam 0,03% do plástico nos oceanos; 46% do plástico nos oceanos é derivado das redes de pesca. Este é um grande problema, até porque muitos animais ficam presos nas redes, acabando por morrer. Falando apenas da captura do camarão, ela é responsável por 1/3 da captura acidental, matando mais tartarugas do que todas as outras indústrias.

A poluição da aquacultura e as doenças associadas
A aquacultura é considerada mais ecológica do que a pesca, mas para alimentar os peixes é utilizada ração feita de farinhas de outros peixes capturados no exterior. Além disso, a aquacultura é uma fonte de doenças e parasitas. Muitos animais morrem de doenças como anemia ou problemas do coração, sendo posteriormente descartados.

Pesca ilegal e fome
Quando vivemos num país onde não falta nada, por vezes é difícil perceber que noutros locais não existe a abundância que aqui temos. Facilmente podemos ir ao supermercado e ter acesso a alimentos de todo o mundo, mas em muitos sítios não é assim. Um dos pontos que o Seaspiracy foca é o facto de a pesca ilegal estar a esvaziar os locais de pesca, fazendo com que os pescadores locais tenham que arriscar cada vez mais mar adentro, em pequenos botes, arriscando a sua vida para pescar o necessário para se alimentar e sustentar a família, e aumentado o custo para as populações locais. Ao mesmo tempo, as grandes embarcações açambarcam o pescado.

A captura e extermínio dos maiores predadores é a influência humana mais perversa na natureza
Um estudo conduzido pelo Institute for Ocean Conservation Science da Stony Brook University concluiu que o declínio de grandes predadores em todas as regiões do mundo está a causar alterações substanciais nos ecossistemas marinhos, alegando que a perda de consumidores de ponta “pode ser a influência mais profunda da humanidade sobre natureza.” Estamos a eliminar, a um ritmo sem precedentes e com consequências desconhecidas,  mecanismos sobre os quais os ecossistemas e as cadeias alimentares permanecem estáveis. 

Segundo os dados da FAO, 80% dos locais de pesca estão sobreexplorados, em estado de ruptura ou esgotados. E a este  ritmo e com a sobrepesca, perda de habitat, mudanças climáticas e poluição, em 2048 os oceanos poderão estar vazios.

Está na hora da mudança e ela tem que acontecer já! A pesca está a destruir os nossos oceanos e temos que falar das suas consequências!

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