Pedalada vegan

O Ricardo partiu hoje as 5.30 para a sua Pedalada Vegan, um evento que o próprio criou e que o vai levar numa viagem de Cascais a Loulé. Antes de sair, ainda teve tempo para deixar umas palavrinhas ao sociedadevegan.com. Aqui fica a curta entrevista com o Ricardo e desejamos que a pedalada vegan seja a primeira de muitas! Força Ricardo!!! Podem acompanhar os passos do Ricardo no link: http://www.facebook.com/pedaladavegan

O meu nome é Ricardo Miguel, tenho 29 anos, nasci, cresci e vivo na linda vila de Cascais. Tenho um emprego que me paga as contas e termino este ano um mestrado em ensino de filosofia. Quero ser professor porque acredito que a educação deve ser a base de uma sociedade e penso que posso ser útil nesse sentido. Acontece que muito provavelmente vou ser mais um professor desempregado. O bom disto é que entretanto tenho tempo para umas aventuras e ir dar umas pedalas conscientes.

O que te levou a decidir a começar uma dieta vegan?
O essencial foi o não querer contribuir passivamente para o sofrimento dos animais que são usados para alimentação. Acredito que muitas mais pessoas estarão dispostas a fazer o mesmo se obtiverem informação sobre a vida que levam os animais que elas estão a pagar para os terem em forma de carne nas suas refeições.

O que faz parte da tua alimentação?
Não sou esquisito. Como praticamente tudo, desde que não tenha ingredientes de origem animal. No entanto, quase não consumo comidas processadas e uso bastantes produtos de origem biológica. Soja, derivados de soja (leite, tofu, iogurtes, tempeh), seitan, vários tipos de feijão, grão, lentilhas, massas, arroz, bulgur, quinoa, millett, cous cous, muitos tipos de sementes (algumas germinadas), muitos legumes e fruta, muita fruta.

O que nos podes dizer a pedalada vegan?
Bem, a ideia foi, digamos, instantânea. Tinha dois dias de férias marcados juntos a um fim de semana para ir escalar com uns amigos, só que eles afinal não iam nessa altura. Então resolvi tentar deixar de ser apenas mais um vegan e usar esses dias para chamar a atenção para o veganismo. Queria fazer algo diferente e que pudesse ser mais amplo do que a alimentação. Como adoro desporto e andar de bicicleta e acredito que o estilo de vida vegan não seja por si um impedimento ao exercício físico, mesmo que intenso, pensei que seria bom procurar criar um grupo de pessoas que partilhem destes mesmos interesses. É bom para a saúde, é divertido e essencialmente é ético. As energias que um vegan gasta a pedalar, para além de pouparem o meio ambiente, poupam o sofrimento animal desnecessário. Esta ida de Cascais a Loulé é a pedalada vegan inaugural e é algo que eu já pensava fazer antes, mas que agora aproveito para lhe dar mais significado e utilidade. Se isto correr como gostaria, as pessoas com estes interesses começarão a propor outras pedaladas vegan, mais curtas, mais longas, mais rápidas ou mais lentas. Não importa. Importa sobretudo que as pessoas se unam e chamem a atenção para o sofrimento que podemos evitar, retirando os animais dos nossos pratos, e para uma vida mais activa, saudável e que poupa o ambiente. Não custa muito, como um amigo meu diz: “um pé pedala para baixo enquanto o outro vem para cima”.

Durante esta 1.ª pedalada vegan não estar a divulgar o veganismo. Não irei parar a não ser para dormir ou pequenas pausas. Não levo panfletos nem nenhuma informação alusiva ao veganismo. Penso fazê-lo no futuro, especialmente quando houver um grupo a pedalar. Mas por ora ficarei contente se algumas pessoas ficarem surpreendidas com esta minha experiência. Será útil se fizer com que se questionem certas ideias erroneamente enraizadas sobre a alimentação e o desporto.

Qual é o teu plano de treinos actualmente?
Preparei-me mais ou menos em 2 semanas. Fiz treinos de 50 km em bicicleta de ginásio na primeira semana e 70 km na segunda. Fazia dois dias seguidos e descansava um ou dois. A ideia era preparar-me para os dois dias seguidos que tenciono fazer até Loulé. Ao longo destas semanas (em dias diferentes, claro) também fiz em estrada 4 treinos de 40 km, numa volta pela serra de Sintra que implica muitas subidas
Isto não foi nada de muito técnico. Não tenho conhecimentos para isso, apenas senso comum de vários anos a pedalar. Contudo, acho que o meu treino principal passa por estar motivado e bem alimentado para poder gastar e conseguir repor as energias que gasto quando faço esforço físico mais intenso. Claro que os músculos mais envolvidos directamente têm de ajudar e estar treinados, mas muito do trabalho está na vontade.

Fazes algum tipo de alimentação especifica para suportar a pedalada vegan?
Não. Simplesmente ingeri mais hidratos de carbono do que o normal alguns dias antes da partida. Para além disso, uma vez que nos treinos queimava muito mais calorias do que num dia normal, após os treinos era inevitável comer quantidades maiores. Não me preocupo em ser exactamente preciso com contagem de calorias nem nada semelhante. Preocupo-me em estar confortável e verificar o corpo a funcionar como eu quero que funcione.

Quais as dicas para um atleta que queira participar numa pedalada vegan?
Depende do atleta e da pedalada que se quer fazer. Mas antes de tudo há que estar motivado. Se a ideia é pedalar rápido, o ideial é fazer como os ciclistas e outros atletas que fazem desportos durante a prática dos quais é importante ter de ingerir alguns alimentos. Barras de cereais, frutas como bananas e maçãs, são alimentos práticos de transportar (por exemplo nos bolsos traseiros de camisolas de ciclismo) e que ajudam a repor a energia que se vai gastando. Para além disto, é essencial manter-se hidratado. Beber muita água, com muita regularidade, mesmo sem ter sede. Quando já se tem sede é porque o corpo já está a ficar desidratado.
Por outro lado, se a ideia da pedalada for fazer um passeio calmo, a melhor dica é trazer um cesto na bicicleta cheio de comida vegan deliciosa para podermos todos provar coisas diferentes. Assim também podemos mostrar às pessoas que desconhecem o veganismo que uma dieta completamente vegetal pode ser muito diferente dos pratos cheios de alface que muitas vezes preconceitosamente imaginam.

Qual é o teu próximo passo?
O meu próximo passo em relação ao Pedalada Vegan é esperar um pouco e ver se as pessoas começam a aderir à ideia de pedalar por esta causa. É giro juntar uns amigos e ir ao restaurante vegetariano almoçar ou jantar. Isto faz com que aquelas refeições não contribuam para a indústria que explora e maltrata os animais, mas dificilmente faz com que outras pessoas prestem atenção àquilo que os vegans já prestaram.
Pelo contrário, imagina lá algumas estradas cheias de bicicletas com ‘ciclo-vegans’ dispostos a dar fatias de bolo vegan de chocolate a provar e a mostrar que se pode fazer exercício sem ter de comer carne? As pessoas provavelmente parariam para olhar e perguntariam a si próprias “o que é que estes malucos andam aqui a fazer?”, mas depois de provarem o bolo e de saberem o que é que o torna diferente dirão algo como “a sério, sem ovos? não acredito, dá-me lá a receita!”

1 comment

  1. Excelente, adorei.

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